João Luiz Rosa

Durante toda sua carreira como pesquisador e acadêmico, o professor Jorge Almeida Guimarães lidou com temas complexos, como enzimas proteolíticas e peptídeos biologicamente ativos. Agora, longe dos laboratórios, ele está prestes assumir uma missão de caráter muito diferente, mas igualmente desafiadora: aproximar universidades e empresas para acelerar a inovação no Brasil.

Guimarães toma posse, hoje, no cargo de diretor-presidente da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (Embrapii), uma organização social criada em 2013 para reduzir a distância entre cientistas e empresários, que muitos consideram um dos principais empecilhos para a produtividade e a inovação no país.

“Na relação com a indústria, os pesquisadores precisam aprender a lidar com prazos, metas, valor de mercado etc. Muitos deles acreditam que suas pesquisas têm valor, mas nem sabem se há mercado para aquilo em que estão trabalhando”, diz Guimarães.

O ponto de partida da Embrapii é a academia. Primeiro, são feitas chamadas públicas de qualificação para grupos de cientistas que atuam em universidades e centros de pesquisa, públicos ou privados. Os grupos aprovados tornam-se unidades da Embrapii. Esse selo é dado aos grupos avaliados, não à instituição como um todo.

Hoje, estão em funcionamento 13 unidades. Em cada uma delas pode haver um ou mais projetos em andamento. As áreas de atuação também variam bastante. Por exemplo, há uma unidade de engenharia submarina na Coppe, no Rio; uma de polímeros no Senai do Rio Grande do Sul; outra de material de alto desempenho no IPT, em São Paulo.

Pelas regras, a Embrapii entra com um terço dos recursos financeiros necessários à pesquisa. As empresas privadas envolvidas no projeto respondem por mais um terço. O restante é financiado pela instituição de pesquisa na qual está a unidade, na forma de salários para os pesquisadores, uso de laboratórios etc. “Isso reduz o risco para as companhias. De outra forma, elas teriam de fazer o investimento total sozinhas”, afirma Guimarães.

Atualmente, cerca de 30 empresas trabalham com as unidades da Embrapii. A cervejaria Brasil Kirin tem uma parceria na área de biomassa para bebidas com o CNPEM, centro de energia e materiais; a Padtec fechou um acordo com o CPqD para criar sistemas de comunicações ópticas; e os grupos Natura, Boticário e TheraSkin Farmacêutica desenvolvem um projeto de nanoencapsulação de ativos cosméticos com o IPT.

Se para o cientista a chance é de ver sua pesquisa transformar-se em produto e chegar ao mercado, para a empresa trata-se de uma maneira de inovar sem ter de criar seu próprio braço de pesquisa.

A Embrapii se encarrega de divulgar o que os grupos estão fazendo para atrair mais empresas, mas a aproximação também pode partir diretamente dessas unidades, já que muitos pesquisadores têm relacionamentos com profissionais de mercado. “Buscamos nos concentrar no interesse da indústria e em competências únicas ou muito particulares da instituição de pesquisa”, afirma Guimarães.

Em seis anos, a previsão da Embrapii é investir cerca de R$ 1,5 bilhão em projetos. Os recursos vêm dos ministérios da Ciência e Tecnologia e da Educação. No momento estão sendo avaliados 19 projetos, no valor de R$ 40 milhões.

A expectativa, diz o novo presidente da Embrapii, é ampliar o número de unidades para algo entre 22 e 24. As chamadas públicas estão prontas. Duas delas, já abertas, mostram o interesse dos pesquisadores. A primeira, destinada à área de “bio”, recebeu 37 propostas; a outra, de interesse geral, atraiu mais de 60.

A biodiversidade é uma das áreas que vão merecer mais atenção da Embrapii. O negócio é complexo e depende de mudanças no quadro regulatório, mas se não houver investimentos nem as adequações legais, o país pode passar a ser alvo de biopirataria, alerta Guimarães. “Isso é fácil porque basta você cortar uma folha para extrair um grande número de informações”.

A área química, especialmente o segmento relacionado aos fármacos, é outra prioridade. Nesse caso, a balança de pagamentos tem se mostrado muito desfavorável por causa da importação maciça de princípios ativos de medicamentos. Agricultura e defesa também estão na mira.

Os projetos em andamento na Embrapii começaram há cerca de um ano. O perfil em geral é de pesquisas de curto prazo, que duram entre um e dois anos, mas as unidades da Embrapii tem até seis anos para trabalhar com seus clientes. Ainda não foi definido se depois desse período cada unidade terá de passar por um novo processo de qualificação ou se haverá mecanismos de renovação automática.

Graduado em medicina veterinária, com doutorado em ciências biológicas, Guimarães tem experiência administrativa: por 11 anos, foi presidente da Capes, órgão de fomento à pesquisa ligado ao Ministério da Educação. O mandato tem duração de quatro anos. Ele substitui o professor João Fernando de Oliveira, que foi o primeiro presidente da Embrapii.

Esta matéria foi publicada na edição de 02/10/2015 do jornal Valor Econômico

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