CEO da Hygia Bio Biotechnology fala sobre as oportunidades do apoio da Embrapii no desenvolvimento de uma tecnologia para prevenção de contaminação em ambientes hospitalar, odontológico, industrial e laboratorial

O mercado de biotecnologia está aquecido, e há algum tempo. As possibilidades de inovação que a área tem atraiu investimentos no Brasil que destinaram cerca de US$ 32,5 bilhões para empresas do setor, de acordo com o Panorama Tech América Latina, realizado pela plataforma Distrito.

Com uma biodiversidade riquíssima e a potência agrícola que o Brasil é, a biotecnologia é campo aberto para a inovação. De olho nesse mercado, empresas e startups utilizam os modelos de fomento oferecidos pela Embrapii para o desenvolvimento de soluções e produtos. São 233 projetos apoiados junto a 209 empresas parceiras, com investimento alavancado de R$ 330,9 milhões.

A startup brasileira Hygia Bio Biotechnology é uma das empresas com projeto junto à Embrapii, para desenvolvimento de indicadores biológicos ultrarrápidos para o controle de desinfecção e prevenção de infecção hospitalar.

A empresa, que atende tanto o SUS (Sistema Único de Saúde) quanto instituições privadas, trabalha em conjunto com a Unidade Embrapii Lactec. Juntos, estão desenvolvendo um equipamento para leitura de indicadores biológicos, utilizado para monitorar e verificar a eficácia dos processos de esterilização em ambientes como hospitais, clínicas odontológicas, indústrias farmacêuticas e laboratórios.

Conversamos com Cícero Oliveira, CEO da Hygia Bio, que fala do mercado de Biossegurança e explica a iniciativa em andamento em parceria com a Embrapii.

Como você avalia o cenário da biossegurança no país?

Biossegurança, de forma generalizada, pode nos remeter para diversos riscos sanitários como os vírus que a sociedade percebeu fortemente no caso recente da pandemia do Covid-19. Enfatizando a questão das IRAS (Infecções Relacionadas à Assistência à Saúde), que são um dos maiores males em serviços de saúde e causa de mortalidade globalmente falando, destacaria a Nota Técnica GVIMS/GGTES/DIRE3/ANVISA nº 01/2023, orientações para vigilância das IRAS e Resistência Microbiana (RM) em serviços de saúde. Nela encontramos o foco da Hygia Bio, que é democratizar o acesso a análises biotecnológicas ultrarrápidas e produtos/serviços de ponta, possibilitando soluções eficientes com custo competitivo no Brasil. Neste ponto, quanto maior o rigor regulatório da Anvisa em locais de potencial risco sanitário, melhor para nós e, certamente, também para a população.

Quais os principais desafios enfrentados neste mercado?

Falar de Biossegurança é falar de preservação da vida, por isso a importância do rigor regulatório por agências de saúde. Atualmente, o mercado nacional de indicadores de esterilização é ocupado basicamente por empresas estrangeiras que criaram estratégias para fidelizar seus clientes/hospitais. Nem sempre a qualidade dos produtos é o mais importante na relação. Somos uma empresa nacional, desenvolvendo produtos para o Brasil e que necessitamos de estratégias e incentivos para equiparação de concorrência. A Embrapii é de extrema importância neste cenário, pois impulsiona empresas nacionais neste mercado tão monopolizado por estrangeiros.

Quais são os principais objetivos do projeto que está sendo desenvolvido junto à Unidade Embrapii Instituto Lactec?

Nosso foco é democratizar o acesso a análises biotecnológicas ultrarrápidas e produtos/serviços de ponta, possibilitando soluções eficientes com custo competitivo. A evolução desse mercado se deu com indicadores autocontidos, no qual a tira de papel impregnada de esporos é acondicionada em uma ampola separada do meio de cultura, onde, após a esterilização, a ampola é quebrada e entra em contato com o meio de cultura para incubação por 24h, até 48 horas. A leitura era feita por mudança de cor decorrente do pH do meio. A terceira geração de indicadores biológicos apresenta as mesmas características. No entanto, o crescimento de esporos é detectado pela leitura através de fluorescência após 1h a 3 horas de incubação, por meio da interação entre a enzima produzida pelo microorganismo e a fluorescência. E, mais recentemente, os tempos para resultados foram reduzidos para cerca de 30 minutos. O equipamento que estamos desenvolvendo vem nesse sentido: permitir que possamos verificar os resultados com segurança e de forma ágil. A partir desse primeiro desenvolvimento de algo inédito (ter 100% do equipamento – leitora produzido no Brasil), planejamos evoluir cada vez mais em tecnologias próprias para monitoramento e controle de IRAS.

Como você vê o apoio da Embrapii para o desenvolvimento desse projeto e outros relacionados à Biossegurança?

Obviamente os recursos financeiros são indispensáveis, porém prefiro destacar a rede de conhecimento, pesquisa e desenvolvimento que se apoia na rede Embrapii. A citar, a Hygia nasceu com um modelo de inovação aberta e a parceria com o Lactec via Embrapii propicia o desenvolvimento de um equipamento complexo e multidisciplinar envolvendo as áreas de microbiologia, química, informática, física, entre outras. Esse ecossistema só é possível através da rede de inovação aberta propiciada pelos parceiros e credenciados Embrapii.

De que forma a Embrapii atua como agente transformador para a competitividade, especialmente no contexto da inovação em biossegurança?

Neste caso da Hygia Bio, especificamente, o fato de estarmos desenvolvendo localmente a nossa própria tecnologia nos habilita para competir globalmente em condições similares a multinacionais consolidadas. Como exemplo disso, destaco que nascemos exportando para Arábia Saudita, Romênia e há vários outros processos de exportação em andamento. Estivemos presente recentemente na MÉDICA (Medical Technology Trade Fair), na Alemanha, e nossos clientes já aguardam o lançamento da leitora.

Como a inovação em Biossegurança pode contribuir para melhorar a qualidade e segurança nos serviços de saúde no Brasil?

Existem três gerações de indicadores biológicos. Segundo a ISO 11138-1:2006, eles são definidos como um sistema de teste contendo micro-organismos viáveis que fornecem uma resistência definida ao processo de esterilização especificado. Há padrões para o uso de indicadores biológicos, mas cada vez mais instituições estão se comprometendo com padrões mais elevados de cuidados. De acordo com a RDC n 15/2012, um indicador biológico deve ser usado diariamente, em cada esterilizador a vapor e em cada carga que contenha um implante. Há ainda a dimensão da Bioinformática. A garantia da qualidade do processamento estéril depende de dados – saber o que eles significam é tão importante quanto os dados em si. O indicador biológico é valioso porque é um indicador direto da letalidade do ciclo de esterilização, mas você precisa saber o que um resultado positivo significa para o seu processo. Todos os produtos de monitoramento revelam dados que, considerados no conjunto, ajudam a confirmar que uma carga foi eficazmente esterilizada. Estes dados ajudam os serviços de saúde a garantirem que seus pacientes e clientes não correm risco de contrair IRAS decorrente do processamento de materiais.

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