Solução oferece informações precisas na fase de testes de rodagem, trazendo análise da voz do condutor como um dos diferenciais

Uma solução inédita e com tecnologia desenvolvida no Brasil promete movimentar a indústria automobilística. A startup fluminense Previsiown recebeu apoio da Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial (EMBRAPII) e do Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD), Unidade EMBRAPII especializada em Comunicações Avançadas, para desenvolver um datalogger automotivo conectado a uma plataforma de inteligência de dados, que torna mais rápida e precisa a fase de testes de veículos. Nesse período, a regulamentação de cada país é levada em conta usando critérios técnicos para garantir qualidade e segurança antes da oferta para venda.

Um datalogger é um dispositivo eletrônico que monitora e registra dados em tempo real durante o percurso feito pelo veículo ou o seu uso numa determinada posição geográfica. A tecnologia do projeto, embora seja similar à caixa-preta de aviões, teve inspiração  na Fórmula 1, em que a comunicação em tempo real entre piloto e quem ajusta o carro é feita de maneira muito rápida e harmoniosa. O chamado ‘Online Automotive Datalogger’ registra e analisa os eventos quando o veículo é utilizado. Com base na avaliação de fatores como localização, clima, percepção do condutor e dados, como por exemplo, desempenho do motor e consumo de combustível, o sistema consegue antecipar os eventos ainda em fase de teste e melhorar o produto antes da sua chegada ao mercado, diminuindo riscos de recall e chamados em garantia no pós-venda. Segundo o CEO da Previsiown, Ivan Vianna, o  principal fornecedor global dos dataloggers é uma empresa americana. O projeto apoiado pela EMBRAPII, no entanto, tem o objetivo de nacionalizar o equipamento, oferecendo um conjunto de soluções até então inédito na indústria automobilística, tais como uso de voz e sensores do veículo, etc. Isso será feito a partir da produção do hardware e do software embarcado, ou firmware, que estão sendo desenvolvidos em parceria com a Unidade EMBRAPII CPQD. A ideia é criar uma versão nacional do datalogger com mais funcionalidades, gerando maior competitividade da indústria brasileira no cenário mundial.

A startup, que costuma atender multinacionais, afirma que esse é um produto inédito no mundo, pois os clientes, de atuação global, relatam não terem encontrado em outros mercados uma tecnologia com monitoramento tão variado e completo como o oferecido pela Previsiown. Vianna diz que as soluções disponíveis no mercado focam apenas nos dados – e não utilizam o motorista como uma fonte relevante de informação. No projeto desenvolvido no âmbito da EMBRAPII, a ideia é não apenas colher dados sobre o desempenho do veículo, mas também trazer informação agregada, considerando-se a experiência do motorista. “Essa solução nos permite classificar e tirar insights dos dados coletados e até correlacionar fatores que nos testes tradicionais não conseguiríamos. É possível interpretar o dado em uma escala muito pequena de tempo, em milésimos de segundos e promover ajustes finos necessários”, explica Vianna.

O equipamento brasileiro oferece um diferencial, que é o uso da voz do motorista, ou nas palavras de Vianna, o “sensor inteligente”. Nesta solução, o motorista atua como um sensor inteligente. A pessoa fala, por exemplo, que o carro perdeu potência em determinado momento do percurso. Isso é registrado, para que depois se analise o ocorrido na fábrica. “A voz é o gatilho para disparar a captura das informações e posterior construção do cenário para reprodução da falha. Esse sistema usa a voz para reunir informações relevantes. Quanto mais célere for a coleta de dados, mais rápida será a tomada de decisão e correção dos problemas. Com isso, o sensor do equipamento vai analisar se o que é percebido pelo motorista é o que realmente vale. Trabalhamos com um fator subjetivo, que é a voz, para oferecer dados melhores”, ressalta ele.

A plataforma também reduz horas de trabalho, pois com a precisão de dados os engenheiros podem corrigir as eventuais falhas do veículo com maior assertividade, efetividade e rapidez antes da sua comercialização. “Durante a realização de um teste, em uma subida íngreme, o motorista relatou perda de potência do modelo, mas nosso sistema cruzou as informações e os engenheiros constataram, a partir dos dados coletados no momento da ocorrência, que se tratava apenas de uma retração normal durante a retomada de velocidade natural neste tipo de situação. Se os testes fossem realizados em momento posterior, seriam mais de trinta horas para descobrir o mesmo resultado. Essa solução oferece assertividade para avaliar o que é realmente importante para a eficiência dos veículos. É uma ferramenta que habilita a transformação digital no processo de testes de automóveis”, explica o CEO da startup.

O ‘Online Automotive Datalogger’ apoiado pela EMBRAPII está em fase de testes e a startup Previsiown foi convidada a expor o projeto no Web Summit Lisbon, maior evento de tecnologia da Europa, que ocorre de 01 a 04 de novembro de 2022. A previsão é de que o produto 100% nacional chegue ao mercado até o início de 2024.

Compartilhamento de riscos é diferencial do modelo EMBRAPII

O CEO da Previsown afirma que o apoio da EMBRAPII foi primordial  para a construção do projeto. “O risco é inerente à inovação. Colocar startup para dialogar com centro de pesquisa e oferecer o recurso financeiro é fundamental. Se não existisse a EMBRAPII, essa startup não existiria. Como uma pequena empresa chega a uma montadora multinacional?”, analisa. Ele observa o contexto do apoio a projetos similares e diz que as startups trazem a proposição do novo, o frescor da inovação, de ideias; as instituições científicas, que são as Unidades EMBRAPII, aportam conhecimento técnico e transformam as ideias em algo viável, enquanto a EMBRAPII coloca o recurso porque entende que inovação é caro, sabendo que os resultados não sairão tão rápido”, destaca. Segundo ele, se não houver esse tripé a inovação não acontece. “A EMBRAPII cumpre um papel fundamental no fomento da inovação, por meio do Estado”, completa.

Sobre a EMBRAPII

A realização desse projeto é resultado do contrato de gestão celebrado entre a EMBRAPII e o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovações – MCTI, o Ministério da Educação – MEC, o Ministério da Saúde – MS e o Ministério da Economia – ME. O projeto também conta com o apoio do Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (Sebrae).  A EMBRAPII oferece a empresas nacionais que desejam inovar recursos não reembolsáveis e um ecossistema de 77 Unidades EMBRAPII, que são centros de pesquisas de todo o país. Para pequenos empreendedores e startups, há um programa específico, o Lab2MKT, que acompanha todo o ciclo de desenvolvimento do produto até sua chegada ao mercado. Mais de 1700 projetos já receberam o apoio da EMBRAPII, totalizando mais de R$ 2,4 bilhões em investimentos.

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