Equipamento médico de respiração para casos graves estará pronto em até oito semanas. Segundo o Ministério da Saúde, a falta de respiradores é um dos principais gargalos para o enfrentamento da crise
A EMBRAPII (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial) ampliou o financiamento de projetos de PD&I, com recursos não reembolsáveis, relacionados ao combate da Covid-19. O modelo tradicional da instituição, que arca com até 1/3 do valor dos projetos, foi flexibilizado. A partir de agora, o estímulo será maior e avaliado de acordo com a necessidade de cada proposta.
O primeiro projeto com financiamento flexibilizado já está em curso. O Instituto ELDORADO (Unidade EMBRAPII) e a empresa Braile vão desenvolver um equipamento para auxiliar o tratamento dos pacientes que sofrem de insuficiência respiratória aguda, condição causada em casos graves do novo vírus.
A EMBRAPII arcará com R$ 1,15 milhão, o que representa metade do valor do projeto, orçado em R$ 2,3 milhões. Os recursos aplicados pela EMBRAPII não precisarão ser reembolsados pela empresa Braile.
O Instituto ELDORADO será responsável pela coordenação do desenvolvimento dos componentes eletrônicos e computacionais, enquanto a empresa produzirá a mecânica e os insumos descartáveis utilizados no equipamento.
“A EMBRAPII nasceu com o propósito de ajudar as empresas inovadoras a superar desafios tecnológicos. Diante da Covid-19 não seria diferente. Ao aumentar o percentual de recursos não reembolsáveis, a organização está contribuindo com a indústria nacional, fomentando a inovação e potencializando o enfrentamento da pandemia”, destaca José Luis Gordon, diretor de Planejamento e Gestão da EMBRAPII.
Entenda a solução tecnológica – O tratamento consiste na Oxigenação por Membrana Extracorpórea, ECMO em inglês, uma forma de oxigenação extracorporal, que oxigena e remove o gás carbônico (CO2) diretamente do sangue. Ela será utilizada como suporte ao tratamento mecânico, oferecendo ao paciente um “pulmão auxiliar”, que funciona por meio de um equipamento composto por um circuito padrão, no qual o sangue das veias é removido do paciente, bombeado até um oxigenador e depois devolvido ao corpo por meio de uma artéria ou uma veia.
Embora já exista no exterior equipamentos com estas funcionalidades, a tecnologia é pioneira no Brasil e trará maior eficiência, aprimorando os procedimentos médicos a custos mais baixos. A produção será 100% nacional.
“Devido à pandemia da Covid-19, a demanda pelo equipamento cresce a cada dia”, afirma Guilherme Fonseca, gerente de P&D da área de saúde, do Instituto ELDORADO. “Estamos trabalhando em rede, com o apoio de vários parceiros para produzi-la, pela primeira vez no Brasil, em tempo recorde, cerca de oito semanas”.
O tratamento é indicado para adultos ou crianças, em casos de transplante de coração, infarto do miocárdio, parada cardíaca e insuficiência respiratória aguda, condição também causada pelo novo coronavírus, no qual há inflamação dos brônquios e o comprometimento dos alvéolos, pequenas estruturas que compõem o sistema respiratório, e funcionam levando o oxigênio à corrente sanguínea.
Segundo Rafael Braile, diretor da Braile, a terapia foi amplamente usada no mundo durante o surto de H1N1, entre 2009 e 2010. “Na época, tivemos o aumento em 100 vezes de sua utilização e os resultados foram positivos. Como a Covid-19 ainda é recente, não temos dados exatos dos resultados de sua aplicação, mas nos baseamos na curva de experiência do Influenza. Também estamos observando os casos da Coreia do Sul e Japão, onde a ECMO tem sido oferecida para suporte no tratamento do Coronavírus. Nesses países, a curva de mortalidade tem sido menor”, afirma.
Em caráter extraordinário e temporário, a Anvisa publicou, no dia 19 de março, a resolução RDC nº 349, que modifica os critérios para petições de registro de produtos e equipamentos destinados ao tratamento e combate à Covid-19. Assim, empresas poderão registrar produtos, tanto fabricados no Brasil, como importados, em menor tempo.
Recurso extra às startups– Além da flexibilização da quantidade de recursos não reembolsáveis, a EMBRAPII destinou R$ 6 milhões às startups e pequenas empresas, para a criação de soluções que amenizem o impacto da crise. Desse total, R$ 2 milhões vieram da parceria com o SEBRAE.