Projeto apoiado pela Embrapii pode viabilizar aplicação prática da fototerapia para tratamento da doença na rede pública de saúde. Startup de São Carlos (SP) está desenvolvendo método para validação de novo fármaco imprescindível nos procedimentos de fototerapia
Uma nova pesquisa apoiada pela Embrapii (Empresa Brasileira de Pesquisa e Inovação Industrial), em pleno desenvolvimento no interior de São Paulo, pode viabilizar, em breve, a efetiva introdução de procedimentos de terapia fotodinâmica para tratamento de câncer de pele no SUS (Sistema Único de Saúde). O projeto busca a validação de um novo medicamento para utilização nos procedimentos de fototerapia, que possa ser usado em alternativa a uma pomada de alto custo importada dos Estados Unidos, usada para o efetivo tratamento do tipo não melanoma, considerado o de maior incidência no Brasil.
A pomada, atualmente, é a única disponível no mercado capaz de reagir nas células tumorais para torná-las fotossensíveis. A expectativa é de que a droga nacional tenha custo cinco vezes menor do que a versão estrangeira, possibilitando que, de fato, a fototerapia chegue ao alcance da população.
A introdução da terapia fotodinâmica no SUS foi confirmada pelo Ministério da Saúde em setembro deste ano e é uma das principais conquistas a serem comemoradas neste dezembro laranja, mês de conscientização e combate ao câncer de pele. No entanto, o custo da medicação necessária para aplicação da fototerapia é um dos obstáculos a serem transpostos para que o tratamento chegue ao alcance massivo dos pacientes na rede pública de saúde. E é justamente esse o objetivo do projeto proposto pela startup Emipharma, que conta com o apoio tecnológico da Unidade Embrapii IFSC-USP (Instituto de Física da USP de São Carlos).
A pomada já foi desenvolvida pela Emipharma a partir de uma molécula sintética, cujo princípio ativo é o ácido aminolevulínico. O medicamento é aplicado na lesão do câncer de pele, tornando-a fotossensível para aplicação subsequente do laser. Entretanto, para que este produto nacional seja efetivamente disponibilizado, é necessário o aval da Anvisa, demandando o desenvolvimento de uma metodologia rigorosa para garantir sua segurança, eficácia, qualidade e estabilidade.
Único no mundo
Este foi o desafio tecnológico apresentado pela Emipharma à Unidade Embrapii IFSC-USP, credenciada para desenvolvimento de pesquisas na área de biofotônica e instrumentação. Sob a coordenação do professor e pesquisador Vanderlei Salvador Bagnato, reconhecido como referência em todo o mundo pelas pesquisas em torno da fototerapia para tratamento de lesões de câncer, a equipe criou o aparelho de fotodinâmica, uma tecnologia 100% nacional e altamente inovadora, considerada única no mundo capaz de realizar o diagnóstico e o tratamento de câncer no mesmo dia. Agora, com o apoio da Embrapii, a mesma equipe está auxiliando a Emipharma a desenvolver a metodologia que vai validar a pomada nacional para ser usada no tratamento.
“Não basta criar a pomada, é preciso atestar que o princípio ativo não vai se degradar durante o período de armazenamento, quando poderá estar sujeita a diferentes condições de temperatura e umidade, por exemplo. Estamos falando de câncer, precisamos garantir que o medicamento terá qualidade e estabilidade quando for iniciada a produção em larga escala. O desafio reside no fato de não haver referências na literatura científica para esse tipo de medicamento, o que é muito novo. Assim, nossos pesquisadores, juntamente com a equipe da Emipharma, desenvolveram uma metodologia analítica inédita em todo o mundo”, explica Bagnato.
No total, o projeto conta com investimentos de R$ 900 mil, sendo 50% do montante aplicado pela Embrapii em recursos não reembolsáveis e o restante aportado pela empresa e pela Unidade IFSC-USP. A pesquisa está em andamento e a expectativa é de que no ano de 2024 seja produzido o primeiro lote experimental para validação. Posteriormente, o medicamento e seu respectivo procedimento de estabilidade do princípio ativo deverão ser submetidos à avaliação da Anvisa.
Impacto social
A viabilização dos tratamentos de fototerapia no SUS significará avanços importantes para os pacientes com câncer de pele. Essa abordagem pode reduzir consideravelmente as filas para pequenas cirurgias, principal via de tratamento atualmente. O procedimento pode ser realizado de forma simples em ambiente ambulatorial, sendo resolutivo para cerca de 90% dos casos de câncer de pele não melanoma. As cirurgias poderiam ser indicadas, portanto, aos 10% de pacientes com lesões mais profundas. Outra vantagem da fototerapia para o paciente é o resultado estético, que elimina a necessidade de mutilações e cicatrizes de maior porte.
“É importante destacar que a Embrapii vem se preocupando não apenas com as tecnologias de atendimento às demandas do setor industrial, mas também tem se preocupado com o atendimento à população. Estamos falando de um contexto extremamente amplo, que vai desde a invenção e geração de conhecimento até a responsabilidade social”, destaca Vanderlei Bagnato.